BRICS: potência global ou ilusão estratégica para o Brasil?
Autor: *José Benedito Caparros Junior
O BRICS, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e agora ampliado para 11 países, tem ganhado destaque no Brasil. Muitos acreditam que o grupo poderia oferecer uma solução estratégica diante de possíveis guerras comerciais com os Estados Unidos. No entanto, essa visão simplificada ignora desafios estruturais e geopolíticos que exigem uma análise mais criteriosa.
A relevância econômica e geopolítica dos BRICS é inquestionável. O grupo representa 42% da população mundial, 30% do território global, 23% do PIB e 18% do comércio internacional. Apesar dos expressivos números, sua estrutura não equivale à de um bloco econômico, como a União Europeia, nem a uma organização internacional, como a ONU. O BRICS é, na verdade, um foro de articulação política e diplomática sem um tratado constitutivo que imponha obrigações e mecanismos de resolução de conflitos. Essa ausência compromete sua solidez institucional e a previsibilidade de suas iniciativas.
Primeiramente, não se pode confundi-los com um bloco econômico, nos moldes da União Europeia ou do Mercosul, tampouco com uma organização internacional, como a Organização das Nações Unidas. Trata-se, na verdade, de um foro de articulação político-diplomática voltado à cooperação e concertação entre países do Sul Global, cuja atuação é tradicionalmente estruturada em três pilares: política e segurança; economia e finanças; sociedade civil.
Isso implica na ausência de um tratado constitutivo, instrumento jurídico em que há obrigações, deveres e mecanismos de solução de conflitos, os quais são exemplos de alguns elementos necessários para formação de blocos econômicos e organizações internacionais. Sua estrutura, por essa razão, não é dotada da mesma solidez institucional, o que pode comprometer a previsibilidade e a continuidade de suas iniciativas.
Outra fragilidade do BRICS reside nas assimetrias político-econômicas entre seus membros. Um exemplo claro dessa disparidade é a relação comercial entre Brasil e China. Embora a China seja o principal parceiro econômico do Brasil, cujas exportações totalizaram cerca de US$ 90 bilhões, o contrário não se verifica. Estudo atualizado pelo banco Santander em 2024 revela que o Brasil não figura entre os principais parceiros comerciais da China, que mantém laços econômicos significativamente mais fortes com os Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Hong Kong. Esse desequilíbrio reduz o poder de barganha brasileiro dentro do grupo.
Além disso, o pragmatismo político rege as relações internacionais, priorizando resultados concretos. Cooperações se mantêm apenas enquanto houver benefícios mútuos. Se um país sentir seus interesses prejudicados, pode reavaliar sua participação. Dessa forma, um acordo bilateral vantajoso entre qualquer membro do BRICS e os EUA poderia enfraquecer o grupo como um todo.
É evidente, portanto, que a ausência de uma estrutura mais formal dos BRICS, a dissimetria de poder entre os membros e o pragmatismo políticos devem ser enxergados como pontos que merecem atenção redobrada do Governo Brasileiro. Não se pode apostar todas as fichas no BRICS.
* José Benedito Caparros Junior é Internacionalista e Mestre em Educação e Novas Tecnologias, Coordenador dos cursos de pós-graduação em Relações Internacionais na UNINTER.
Autor: *José Benedito Caparros Junior